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Recife, Pernambuco, Brazil
O Blog Educar com Cordel é editado pelo poeta e escritor Paulo Moura, Professor de História e Poeta CORDELISTA. Desenvolve o projeto EDUCAR COM CORDEL que visa levar poesia e literatura de cordel para as salas de aula, ensinando como surgiu a Literatura de Cordel, suas origens, seus estilos, suas heranças. O Projeto Educar com Cordel é detentor do Prêmio Patativa do Assaré de Literatura de Cordel do MINC (Ministério da Cultura).

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Peleja Virtual



(esta matéria foi veiculada no Diario de Pernambuco este ano. Pra quem ainda não a leu a oportunidade é esta.Pra quem já leu, vale a pena ler de novo!)

Pelejas de versos no espaço virtual
Disputa // Ideia dos duelos poéticos pela internet foi disseminada entre cordelistas com a ajuda da própria rede
Pollyanna Diniz
pollyannadiniz.pe@diariosassociados.com.br

No âmbito das palavras, a briga não é presencial, como entre lutadores que disputam a honra e a integridade física num ringue. No mundo das letras e violas, as pelejas entre poetas não deixam marcas no corpo.

Pernambucano José Honório participou do primeiro embate via web contra Américo Gomes, da Paraíba. Foto: Ines Campelo/DP/D.A Press
Ao contrário, enriquecem culturalmente os que se propõem a participar de uma disputa de versos e rimas. Na tradição da literatura de cordel, as pelejas eram normalmente fictícias - os poetas imaginavam um encontro entre dois personagens para compor o livreto. As disputas entre dois cordelistas "reais", como por contradição, foi possibilitada no espaço virtual. Em 1997, com a internet, um cordelista pernambucano e outro paraibano realizaram o primeiro embate via web de que se tem notícia: A peleja virtual entre José Honório (PE) e Américo Gomes (PB).

"Honório meu camarada/ Se lhe for de bom agrado/ Quero lhe desafiar/ Para cantar lado a lado/ Disputando uma peleja/ Com o meu verbo afiado/ Pelo correio eletrônico/ Vou lhe deixar estirado", escreveu Américo por e-mail. A troca de versos por correspondência eletrônica durou 15 dias. Até hoje, ele e José Honório nunca estiveram frente afrente, mas a idéia das pelejas via internet se disseminou entre os poetas com a ajuda da própria rede.

Foi assim que o publicitário e cordelista Mauro Machado fez a sua primeira peleja virtual contra o poeta Jorge Filó. "Começamos a peleja através de uma lista de e-mails. E é engraçado porque no embate de violeiros, normalmente são usadas características físicas do outro para atiçar a briga. Eu chamei ele de velho nos versos, mas na realidade, ele nem tinha idade para isso", brinca. Depois desta peleja, A grande peleja virtual de Jorge Filó com Mauro Machado, o publicitário ainda duelou com Paulo Moura e com José Honório. "Na peleja com Honório, tivemos um problema no computador e perdemos os versos iniciais, tivemos que recomeçar", complementa Mauro.

Cordelistas cibernéticos investem na provocação
Encontro virtual aproximou os poetas e não impede que os livretos sejam publicados no formato original


O improviso, inerente ao desafio de violeiros e não ao cordel, é mais exercitado virtualmente quando a peleja é feita em tempo real, através do MSN, por exemplo.

Paulo Moura, José Honório, Mauro Machado e Allan Sales (da esquerda para a direita) experimentaram pelejar no MSN com plateia. Foto: Ines Campelo/DP/D.A Press
"Como gosto muito de criar ali, na hora, no improviso mesmo, faço muitas pelejas com pessoas de outros lugares do Brasil. Com alguns deles, decidimos um tema por semana", explica Allan Sales, autor do livreto Mourão perguntado, em parceria com Heleno Alexandre.

"Já fizemos até a experiência de pelejar no MSN com plateia, com algumas pessoas acompanhando a peleja virtualmente", comenta Machado. Na Minipeleja do Cordelista Cibernético com Silvestre Stalonge no MSN Messenger, por exemplo, Mauro e Honório protagonizam o duelo: "Já estou acostumado/ Com essa conversa mole/ Em peleja virtual/ Pode vir poeta a fole/ Pois eu sei que neste espaço/ Comigo ninguém não bole", provoca o cordelista cibernético. Silvestre Stalonge, vulgo Rombo, não deixa por menos: "Poeta não mais enrole/ Com seu versar mixuruco/ Parece um macaco vesgo/ Sem ter prumo no trabuco/ Aliando todo errado/ Parecendo um maluco".

Além do e-mail e do MSN, o orkut e os blogs também têm sido ferramentas utilizadas pelos cordelistas. Paulo Moura é um dos autores de Cicinho Gomes - O poeta do silêncio, obra coletiva feita através do blog www.luizberto.com. "Foi uma homenagem a este poeta, que viveu em Tabira e morreu este ano. Colocaram no blog a notícia da morte dele e acabou virando mote", explica Moura.

As pelejas e os cordeis podem ser realizadas pela internet, até coletivamente, mas a publicação dos livretos - em seu formato tradicional - não é inviabilizada. "Hoje, temos mais facilidade no momento de publicar. Muitos até já fazem isso em casa. Então, mesmo as pelejas virtuais, muitas vezes, fazemos questão de publicar", comenta Paulo Moura.

Novo fôlego com os desafios na internet



Assim como aconteceu com os jornais e com a própria televisão, a popularização da internet foi motivo para que muitos apregoassem o fim do cordel. A jornalista e estudiosa de cultura popular, Maria Alice Amorim, não acredita nessa versão. "Pelo contrário, parece que a internet e as pelejas virtuais deram um fòlego para a literatura de cordel. Eles começaram a se comunicar mais e se sentiram instigados a produzir. A internet, a tecnologia e as suas ferramentas, podem ser uma estratégia de sobrevivência do cordel", explica a jornalista que deve lançar no mês de julho o livro No visgo do improviso ou a peleja virtual entre cibercultura e tradição.

A obra é fruto de uma dissertação de mestrado em que Maria Alice estudou, além das pelejas virtuais, as poéticas do improviso. "As pessoas acham que, porque o cordel é uma poesia de formas mais rígidas, ele tem que estar preso no tempo. Mas a internet é uma ferramente de comunicação que não é incompatível à cultura tradicional", complementa.

Apesar da plataforma de encontro dos cordelistas ser a internet, as formas poéticas são as mesmas dos cordéis tradicionais. "Na prática, combinamos antes de começar o cordel como vamos escrever, se em sextilhas, por exemplo. Mas podemos mudar isso ao longo da peleja, o que normalmente não acontece quando escrevemos o cordel tradicional", explica Mauro Machado, que diz ter incoporado novas formas de escrever, como o "galope à beira-mar", que são dez versos de onze sílabas; e o "quadrão perguntado", quando um dos poetas pergunta e o outro responde o questionamento. "A peleja virtual é um gênero híbrido, de maior complexidade", confirma Maria Alice.

A popularização dos sites e comunidades dedicadas ao cordel não significa, no entanto, que todos que escrevam versos sejam cordelistas. "O principal é a qualidade poética. Caso contrário, é só uma arrumação em forma de versos. É uma expressão poética que, apesar de ter vindo de uma tradição popular, requer sofisticação por conta da métrica, da rima e ainda tem a questão da contagem das sílabas, do ritmo", completa a estudiosa.



Cordel na web

Comunidades do orkut:

Unicordel PE
Cordel cabrunquento
Oficina do cordel
Casa dos amantes do cordel
Desafio de cordel

Blogs e páginas:

http://zehonorio.blogspot.com
http://interpoetica.com
http://nopedaparede.blogspot.com
www.luizberto.com
www.di-versificando.blogspot.com
www.allancordelista.blogspot.com
www.meadiciona.com/unicordel

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