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O Blog Educar com Cordel é editado pelo poeta e escritor Paulo Moura, Professor de História e Poeta CORDELISTA. Desenvolve o projeto EDUCAR COM CORDEL que visa levar poesia e literatura de cordel para as salas de aula, ensinando como surgiu a Literatura de Cordel, suas origens, seus estilos, suas heranças. O Projeto Educar com Cordel é detentor do Prêmio Patativa do Assaré de Literatura de Cordel do MINC (Ministério da Cultura).

domingo, 3 de janeiro de 2010

Patativa tem versos inéditos

(Este texto foi copiado do Jornal Diario do Nordeste em 2009. Como é um assunto de grande relevância para o mundo da poesia e da educação, resolvi republicá-lo para que as pessoas que ainda não tiveram a oportunidade de ler, façam agora! Boa leitura a todos!)

A poesia popular de Patativa do Assaré ainda continua como principal ícone do cotidiano do sertão nordestino

Assaré. Para quem pensa que a fonte poética de Patativa do Assaré se esgotou, uma novidade: brevemente, será lançado um livro com poemas inéditos. Os versos, segundo Inês Alencar, filha do artista, estão com o seu sobrinho Geraldo Gonçalves, apontado por Patativa como um dos seus seguidores. Está sendo discutida também a possibilidade de publicação dos poemas eróticos de Patativa que foram deixados com o padre Antônio Vieira, o defensor dos jumentos, e agora estão com o médico e amigo da família José Flávio Vieira.

“Não nego meu sangue,
não nego meu nome,
olho para fome e pergunto:
o que há?
Eu sou brasilêro
fio do Nordeste”,
Sou cabra da peste,
sou do Ceará...”

Seis anos depois da morte de Patativa, seus versos correm de boca em boca, evangelizando o sertão e enternecendo as academias com seu saber profético. A música “A Triste Partida”, interpretada por Luiz Gonzaga, ainda é a maior descrição da odisséia do nordestino retirante que deixa o seu torrão natal em busca de emprego. A casa onde ele nasceu, na Serra de Santana, município de Assaré, ameaça desabar, mas a sua poesia, extraída da terra árida, se mantém de pé.

Localizada no limite do Cariri com a região dos Inhamuns, a mais seca do Estado, a cidade de Assaré seria mais um município do Ceará, sem nenhuma projeção, se não fosse o poeta Patativa que, em vida, não imaginava que a sua obra poética seria estudada na Universidade de Sorbonne, na França. A humildade do artista é evidente:

“Meu verso rasteio, singelo e sem graça
Não entra na praça, no rico salão
Meu verso só entra no campo e na roça
Nas pobre paioça, da serra ao sertão.”

A principal temática de Patativa era a seca e a terra onde vivia, mas as poesias bem-humoradas e as histórias pitorescas da vida sertaneja também estão presentes em seus poemas. Enquanto lavrava a terra com a enxada, fazia brotar do solo árido o lirismo de sua poesia. Foi o intérprete da alma nordestina, cantando suas dores e sofrimentos e também as belezas do sertão.

Na casa de taipa onde viveu, produziu também poemas eruditos comparados pelo reitor da Urca, professor Plácido Cidade Nuvens, com os maiores clássicos da literatura portuguesa, entre os quais Fernando Pessoa, Castro Alves, Padre Antonio Thomaz, Antonio Sales, Camões e Olavo Bilac.

Nas pegadas do Padre Antonio Thomaz, “príncipe dos poetas cearenses”, Patativa produziu um soneto em defesa da prostituta com o título “A Meretriz” . Abaixo, alguns versos deste soneto:

Se alguém te chamas de perdida e louca
Não acredites, pois não é verdade.
Há quem procure cheio de ansiedade
A graça e o riso que tu tens na boca...

...Fostes menina, já usastes touca
Fostes donzela, tinhas virgindade...

... Alguém te estima e com fervor te quer
... És a fonte de matar a sede
Do desgraçado que não tem mulher.

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