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Recife, Pernambuco, Brazil
O Blog Educar com Cordel é editado pelo poeta e escritor Paulo Moura, Professor de História e Poeta CORDELISTA. Desenvolve o projeto EDUCAR COM CORDEL que visa levar poesia e literatura de cordel para as salas de aula, ensinando como surgiu a Literatura de Cordel, suas origens, seus estilos, suas heranças. O Projeto Educar com Cordel é detentor do Prêmio Patativa do Assaré de Literatura de Cordel do MINC (Ministério da Cultura).

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

MEU PRIMEIRO LIVRO



Dizem que o primeiro livro que a gente escreve é como o primeiro sutiã para uma adolescente, ou mesmo um primeiro beijo. A gente nunca esquece!
O sentimento que tenho pelo meu livro Lampião em Verso e Prosa, é mais ou menos assim.
Foi a partir dele que aprofundei meu gosto pela poesia de cordel e, como já sabia fazer cordel, fui estimulado a pesquisar e estudar com mais profundidade o tema. Desde então, procurei beber na fonte dos mais renomados cordelistas, tanto os da antiguidade, como Leandro Gomes de Barros, Silvino Pirauá, até os contemporâneos, a exemplo de José Honório, Arievaldo Viana, entre outros.
Certa feita, coloquei um trecho do meu livro Lampiao em Verso e Prosa, num site que eu tinha construido (isso nos meados de 2000, 2001) quando recebo um maravilhoso comentário de um internauta que me chama de artífice da poesia de cordel e me coloca no mesmo naipe de Leandro. E eu me perguntava: Quem diabos é esse Leandro? pois é. Eu não tinha conhecimento de quem era o Principe dos Cordelistas.
Hoje, vivo tão envolvido com a literatura de Cordel que acho que sem ela não existe vida.
Vivo nesse universo mágico de poetas sertanejos. Nessa maravilha que é o falar metrificado. De subir num palco e recitar uma bela poesia ou mesmo uma poesia engraçada e ver o povo embaixo se emocionando com o que você diz.
Semana passada, na véspera do Natal, fui me apresentar a convite do mestre Allan Salles, no mercado São José, juntamente com os poetas Edgar Diniz e Altair Leal. Ficamos mais de hora e meia dizendo poesias pra aquele povo simples do mercado, que vibravam, riam e se emocionavam com nossas poesias.
Num certo momento, já ao final da nossa exibição, recitei um verso que fiz falando sobre o "Natal que eu Queria" e, ao terminar a fala tinha um bebinho lá embaixo chorando de emoção. Essa cena ficou guardada na minha mente, tanto que estou narrando agora, não pela novidade do choro. Pois que é a coisa mais corriqueira, se arrancar umas lágrimas do ouvinte que nos assiste, mas pela simplicidade do sentimento do bebinho. Não me perguntem porque. Mas aquilo me tocou!

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

O NATAL QUE EU QUERIA (Paulo Moura)

Entra ano e sai ano
e a cantiga é sempre igual
quando chega o mês Dezembro
como se num ritual
as ruas iluminadas
lojas todas enfeitadas
anunciando o Natal

Nas empresas, é normal
a confraternização
bebem, comem, dão presentes
na mais perfeita união
só se esquecem de Jesus
que do Natal é a razão

E naquela animação
virou “amigo do peito”
quem durante o ano todo
lhe encheu de falha e defeito
depreciou seu trabalho
e hoje te vê de outro jeito

Até que age direito
quem num gesto soberano
arrecada doações
brinquedo, corte de pano...
mas essa ajuda legal
não se dá só no Natal
devia dar todo o ano

Também não comete engano
quem no Natal faz ou fez
visita aos orfanatos
pra as criancinhas ter vez!
se quiser ser mais legal
não vá lá só no Natal
vá visitar todo mês!

Um gesto de sensatez
de quem tem ética e moral
é abraçar o assistente
que faz serviço geral...
tem chefe que só faz isso
quando chega o Natal!

Muita gente age mal
com gesto vil e malvado
todos sabem que ele é
covarde e dissimulado
no Natal, arrependido,
até chora, emocionado

O Natal que eu queria
era o Natal de Jesus
aquele que ele nos deu
ao morrer nos pés da cruz
o do amor verdadeiro
pra se usar o ano inteiro
embaixo de sua luz

O amor que ele nos deu
não é amor desigual
é todo dia do mês
é um amor fraternal
não é amor de artista
nem amor capitalista
que só se vê no Natal!

Nâo é amor de presente
comprado pra agradar
nem amor de riso largo
e nem de farto jantar
é amor de estar presente
mesmo que não possa estar

Então termino estes versos
sem desejar pra ninguem
o tal do Feliz Natal
Pois só um dia ele tem
vou desejar com alegria
Feliz Natal neste dia
e em todos os dias tambem!

Paulo Moura

domingo, 20 de dezembro de 2009

Educação: tem vez?

Nelly Carvalho

Nellycar@terra.com.br

Uma dúvida paira no ar no momento atual brasileiro. O JC do dia 3, cujas reportagens-denúncia vêm recebendo os mais importantes prêmios de jornalismo, publicou a manchete: Pesquisa mostra deficiência no ensino. A matéria revela que 50% dos brasileiros que cursaram até a quarta série são analfabetos ou, no mínimo, analfabetos funcionais. Entre as prioridades nos vários níveis de governo, a educação parece ser prioridade zero. O que nos leva a indagar: educação é sem vez ou tem vez?

Por esse motivo, todo encontro que visa debater a educação é bem-vindo. Um dos últimos realizou-se no auditório da Fiepe, promovido pela Academia Pernambucana de Ciências, tendo à frente o arquiteto e amigo Waldecy Pinto. Do programa constaram duas mesas-redondas. Da primeira, participaram os reitores das quatro universidades de Pernambuco, sobre o Papel das universidades na educação sustentável, tema que despertou muitos debates. A segunda versou obre o Ensino profissional, tema que vem crescendo como rumo inovador e necessário para o Brasil, e que teve entre seus participantes Antonio Carlos Aguiar, superintendente do Senai, educador competente, idealista e dedicado, que conhecemos desde a UFPE e o CEE. Como conferencista, tivemos o educador e engenheiro, além do articulista desta página, senador Cristovam Buarque, com Uma visão da Educação no Brasil. Na sua fala, muito aplaudida, começando por uma visão histórica da construção do País, analisou os vários aspectos do processo educativo, hoje.

Estabelecendo um paralelo com países pequenos cujo crescimento vem se dando por conta de investir no ensino, demonstrou que no Brasil, a educação não é prioridade. Convocou todos para uma cruzada em favor da educação nos moldes da campanha abolicionista: seriam os educacionistas. Além disso, mostrou o peso do papel do professor como elemento determinante na formação e socialização das crianças e jovens.

O que foi dito com consciência e firmeza pelo senador, fez-nos estabelecer uma ligação com o que ouvimos, há algum tempo, entre perplexos e consternados, sobre o que é ser professor, dito ironicamente por alguém que fez sua carreira política com base na cátedra universitária. O professor seria aquele que não sabe renovar e fica repetindo as mesmas coisas para as turmas que ensina, pois não sabe criar, sendo apenas um pesquisador frustrado.

A definição do termo, de acordo com o dicionário não confere com o dito. No Houaiss, a acepção é aquele que professa uma crença, ou ainda, aquele que dá aulas em escolas ou universidades, tendo como sinônimos, docente, lente, mestre. Tem origem nobre: do latim, professor, professoris: o que se dedica a alguma causa, o que dá a conhecer uma verdade.

A origem do termo está ligada à fé nos homens e na vida, à dedicação e à realização de um ideal ético. Aristóteles e Sócrates foram ótimos mestres porque transmitiram seu conhecimento aos alunos, formando discípulos que, em alguns aspectos, os superaram.

Os dicionários (estanque como a água no poço, segundo João Cabral) confirmam que são os professores que ajudam o jovem a crescer, sendo a pedra basilar na construção das demais. Médicos, jornalistas, engenheiros ou atores dependeram do professor ao longo do aprendizado, como facilitador na socialização e na construção do aprendizado profissional.

Mas é uma profissão pouco valorizada e desestimulada pelo poder público, como vimos na definição transcrita acima, e pela sociedade. Seus serviços são usados com maior frequência do que os de qualquer outra profissão, porque são cotidianos e ininterruptos para a formação e informação das novas gerações. Uma das causas por que a educação não tem vez é a desmotivação do professor causada pela desvalorização profissional. Junto com o descaso com o processo educativo, é esta a razão de vir o Brasil se classificando nas pesquisas nos últimos lugares, no item Educação.

» Nelly Carvalho é professora da PG de Letras / UFPE e membro do CEE/PE

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

UM CLÁSSICO DO CORDEL

AS GRANDES AVENTURAS DE ARMANDO E ROSA
- JOSÉ CAMELO DE MELO RESENDE -

COCO-VERDE e MELANCIA
é uma história que alguém
quer sabê-la mas não sabe
o começo de onde vem
nem sabe os anos que fazem
pois passam trinta de cem

Coco-Verde era filho
de Constantino Amaral
morador no Rio Grande
mas fora da capital
pois sua casa distava
meia légua de Natal

Porém seu nome era Armando
como o povo o conhecia
mas a namorada dele
essa tal de Melancia
a ele por Coco-Verde
chamava e ninguém sabia

Então dessa Melancia
Rosa era o nome dela
porém Armando em criança
se apaixonando por ela
para poder namora-la
pôs esse apelido nela

Portanto, seu nome é Rosa
seu pai Tiago Agostinho
de origem portuguesa
do pai de Armando vizinho
seus sítios eram defronte
divididos num caminho

Quando Rosa fez seis anos
e Armando a mesma idade
os pais de ambos trouxeram
um professor da cidade
para instruir as crianças
daquela localidade

Fizeram logo uma casa
sobre um alto, nela então
Rosa e Armando começaram
a receber instrução
junto com outros meninos
uns vizinhos outros não

Nessa escola começou
Armando a namorar Rosa
pois ela além de ser rica
era bastante formosa
inteligente e cortez
muito séria e carinhosa

Rosa tinha por Armando
uma grande simpatia
de forma que quando o mestre
dava nele ela sentia
o mesmo fazia Armando
quando ela padecia

Ao completarem dez anos
tanto Rosa como Armando
em lousas um para a outro
viviam se carteando
mas disfarçando que estavam
nota de carta apostando

Depois Armando temendo
que o mestre os descobria
figindo que amava as frutas
e nas notas que fazia
tomou como namorada
a chamada Melancia

Rosa também pelas frutas
fingiu amor desmedido
e tomou o Coco-verde
já para seu pretendido
porém o "coco" era Armando
ele estava prevenido

Rosa estava prevenida
que a melancia de Armando
era ela, então assim
brincavam se carteando
diziam aos outros que estavam
notas de cartas apostando

Então defronte a escola
tinha uma pedra isolada
ficando ao lado direito
do poente da estrada
e dela não se avistava
dos pais de Rosa a morada

Armando muito sincero
quando da escola voltava
bem ao pé da dita pedra
satisfeito ele a esperava
e dali para diante
ele a Rosa acompanhava

Rosa ao fazer doze anos
o mestre um dia calado
levou todos os meninos
pra um salão reservado
ficando então as meninas
no seu salão costumado

Armando quando se viu
no salão longe de Rosa
não deu lição nesse dia
por não vê sua mimosa
o mestre então castigou-o
com sua mão rigorosa

Voltou Armando de tarde
no pé da pedra esperou
por Rosa quinze minutos
mas ela ali não chegou
e Armando vendo a demora
pra casa triste marchou

Mas Rosa no outro dia
deixou seus pais almoçando
e caminhou para a pedra
onde esperou por Armando
e quando Armando chegou
encontrou ela chorando

Armando lhe perguntou:
Rosa, diz-me o motivo
que te fez em me deixar
tão tristonho e pensativo?
diz-me se o nosso amor
já morreu ou inda está vivo?

Rosa chorando lhe disse:
foi o nosso professor
que não deixou-me voltar
por causa do nosso amor
dizendo que foi meu pai
que a ele fez sabedor

Disse-me mais que meu pai
lhe disse que não convinha
leu andar junto contigo
pois estou quase mocinha
portanto, só me deixasse
vir da escola sozinha

Armando lhe respondeu:
pois a coisa está ruim
como eu não posso ver
da nossa amizade o fim
vou ausentar-me desta terra
pra descansares de mim

- Amanhã em vou embora
para nunca mais voltar
pois minha presença aqui
talvez te faça penar
e mesmo não me convém
ver-te sem poder-te amar

Disse Rosa: tu assim
trazes pra mim um perigo
porque se fores embora
eu hei de acabar comigo
pois a vida só me serve
se eu me casar contigo

- Hoje não vejo quem tenha
força capaz de fazer
meu coração desprezar-te
antes prefiro morrer
pois pra tudo existe jeito
e o jeito eu vou dizer

- Esta pedra de hoje em diante
será pois a nossa agência
poderemos deixar nela
munidos de paciência
todo dia um para o outro
sincera correspondência

- Porque nosso amor precisa
nutrir as suas raizes
no coração um do outro
para vivermos felizes;
eis ai o meu destino
vê agora o que me dizes

Armando lhe respondeu:
pois deixo de ir-ma embora
porque o meu coração
te consagro nesta hora
e para que me acredite
eu vou te jurar agora

- Eu juro a Deus que jamais
te deixarei esquecer
um só instante em meu peito
e juro também sofrer
por ti qualquer desventura
que alguém queira trazer

- Juro mais que te pertencem
minh'alma, meu coração
e juro também por ti
desconhecer a razão
porque para defender-te
me sujeitarei a prisão

Rosa disse: em também juro
por ti ser forte e ativa
e o meu amor durar sempre
como esta pedra nativa
se eu não casar contigo
juro a Deus não ficar viva

- E se meu pai não quizer-te
como genro, inda te digo
daqui do pé desta pedra
juro a Deus fugir contigo
juro mais que meu amor
não obedece castigo

Nisto bateu a sineta
da escola, convidando
a entrada dos alunos
pois todos iam chegando
Rosa ai marchou com pressa
de parelha com Armando

Então depois desse dia
Armando quando passava
na pedra para a escola
uma carta encontrava
e Rosa encontrava outra
à tarde quando voltava

Quando Rosa ficou moça
se tornou inda mais bela
e Armando também rapaz
consultou então com ela
o que devia fazer
para pedi-la ao pai dela

Então Tiago Agostinho
não ficou surpreendido
pois que Rosa amava Armando
ele já tinha sabido
logo foi franco em dizer-lhe
que estava feito o pedido

Armando voltou contente
Tiago Agostinho então
procurou saber de Rosa
qual a sua opinião
se ela estava de acordo
receber de Armando a mão

Rosa lhe disse: meu pai
estou de acordo, sim
porque nasci para Armando
e Armando nasceu para mim
e digo logo ao senhor
que nosso amor não tem fim

Tiago disse consigo:
a cousa está enrascada
e se eu for muito ativo
afundarei a jangada!...
então respondeu-lhe rindo:
breve estarás casada

Combinou com sua esposa
com muita sagacidade
um jeito para acabar
aquela grande amizade
mas queria fazer isto
sem demonstrar má vontade

Mandou convidar Armando
na tarde do mesmo dia
e disse em vista dos dois
que o casamento faria
só com um ano depois
pois era quando podia

Logo Armando concordou
Rosa concordou também
Tiago disse consigo:
este acordo me convém
tenho tempo pra lutar
e espero sair-me bem

Com 2 meses depois disso
ele falou pra comprar
o sítio de Constantino
para Armando se mudar
se fazendo muito calmo
pra ninguém desconfiar

Então o pai de Armando
o Constantino Amaral
concordou vender o sítio
depois com o capital
buscar se estabelecer
com uma loja em Natal

Lhe disse Armando: meu pai
se me tiver como amigo
deixe de vender o sítio
pois como homem lhe digo
só sairei desta terra
levando Rosa comigo

- Depois do meu casamento
meu pai poderá vender
seu sítio, pois dessa vez
não terei o que dizer
mas agora fará isso
se não quiser me atender

Amaral lhe respondeu:
meu filho estás atendido
pois inda com sacrifício
eu te atendia o pedido
quanto mais que nosso sítio
ainda não está vendido

Tiago Agostinho vendo
que não podia comprar
o sítio de Constantino
para Armando se ausentar
procurou por outra forma
o casamento acabar

Chamou Armando e disse:
Armando, o teu casamento
não quero mais demorá-lo
vamos dar nosso andamento
e pra poupar-te as despesas
um negócio te apresento

- Eu tenho uns cortes de panos
arrematados num leilão
e queria que tu fosses
vende-los lá no sertão
com o lucro tu farás
toda tua arrumação

Armando logo aceitou
o negócio esclarecido
dizendo então que ficava
a Tiago agradecido
e com três dias partiu
de fazenda bem sortido

Tiago tinha dois filhos
sendo casado o primeiro
residiam em Mamanguape
então o filho solteiro
numa loja do irmão
servia como caixeiro

Assim que Armando partiu
Tiago Agostinho então
escreveu para seus filhos
com a maior precaução
dizendo que um viesse
executar a traição

Com quatro dias, a noite
chegou o filho solteiro
pronto para executar
o plano de traiçoeiro
Tiago antes da carta
interrogou-o primeiro

Pois perguntou ao filho:
o que tu andas fazendo
estas horas por aqui?
parece que vens correndo?
disse o filho: é sua nora
que deixei quase morrendo

- Meu irmão foi quem mandou
eu vir lhe participar
o estado da mulher,
para o senhor lhe mandar
a nossa irmã Rosinha
pra da cunhada tratar

- Com uma grande agonia
ontem quase ela tem fim
disse o doutor: ela morre
se chegar ter outra assim;
e meu irmão não confia
seu trato a gente ruim

- Então fretei uma barca
por desmedido valor
a qual se acha no porto
esperando quando eu for
e quero levar Rosinha
veja o que diz o senhor

Tiago lhe respondeu:
em mando que Rosa vá
e fico com muita pena
de não ir com vocês, já
porém depois de amanhã
talvez eu chegue por lá

- Mas mando logo uma carta
por vocês neste momento
onde meu filho verá
que fico em grande tormento
por saber que minha nora
está nesse sofrimento

Quando a carta estava feita
Rosa estava preparada
e acompanhada do mano
partiu em marcha apressada
pretendendo tomar a barca
As quatro da madrugada

Assim que os dois embarcaram
o remador que sabia
remou para Mamanguape
com prazer e alegria
aonde chegaram em paz
na manhã do outro dia

Quando no ponto saltaram
Rosa com o irmão dela
encontraram dois cavalos
um pro mano e outro pra ela
e um para o bagageiro
com cangalha e não com sela

O irmão montando Rosa
ela disse: eu entendia
que do porto a Mamanguape
meia légua não seria!
Lhe disse o irmão: é longe...
e montou sem mais profia

A cavalo em Mamanguape
chegaram ligeiramente
disse o irmão para Rosa:
isso aqui é S. Vivente
o bagageiro afirmou
e logo tomou a frente

Da cidade de Mamanguape
Rosa nada conhecia
e por isso acreditou
no que o irmão lhe dizia
e açoitando o cavalo
caminhou com alegria

As dez horas se serviram
de doce com queijo e vinho
e ao por do sol, o irmão
à Rosa disse baixinho:
Rosa, alviçaras, chegamos
na casa de teu padrinho!

Rosa bastante espantada
lhe respondeu: é mentira
meu padrinho aqui não mora
e se mora me admira
eu ter vindo a Mamanguape
e me achar em Guarabira

Mas logo no mesmo instante
ouviu a voz do padrinho
que dizia duma porta:
viva! chegou meu sobrinho
trazendo minha afilhada
pra sossego de Agostinho!

Vou deixar Rosa um instante
e dizer primeiramente
quem era o padrinho dela
e porque ficou contente
para ninguém não dizer
que não ficou bem ciente

Esse padrinho de Rosa
era irmão do pai dela
seu nome, Pedro Agostinho
sua esposa Florisbela
e foi um dos mais antigos
que Guarabira viu nela

Então Tiago Agostinho
combinou com seu irmão
botar Rosa em sua casa
por meio duma traição
e para poder fazer
mandou Armando ao sertão

Rosa que não conhecia
de Guarabira o caminho
deixou-se ir inocente
para a casa do padrinho
onde lhe veio a lembrança
dum ardil mais que mesquinho

Por isso quando ela entrou
na casa disse ao irmão
que lhe quisesse explicar
daquilo tudo a razão
pois lhe estava parecendo
um golpe de traição

Lhe disse o irmão: Rosinha
vou te dizer a verdade
é pra tu deixares aqui
de Armando aquela amizade
pois meu pai só deu-lhe o sim
temendo uma falsidade

- Para que tu não fugisse
meu pai deu a ele o sim
porque se assim não fizesse
a coisa estava ruim
pois uma amizade grande
é bem custoso ter fim

- Por isso ele ordenou-me
eu te trazer inocente
para aqui, porque aqui
jamais encontrarás gente
por quem tu possas mandar
fazer a Armando ciente

Logo Rosa respondeu-lhe:
porém meu pai bem podia
quando Armando me pediu
dizer-lhe que não queria
porque um homem de bem
odeia a hipocrisia

- Se eu soubesse que meu pai
era assim tão fementido
jamais deixaria Armando
ter minha mão lhe pedido
visto que aeu não era digna
de te-lo como marido

- Para mim comete um crime
a filha dum traiçoeiro
que quer se fazer esposa
dum honrado cavalheiro
pois a honra é luz nas trevas
a traição não tem luzeiro!

- Portanto, eu não deveria
encher de amor um senhor
filho de um pai honrado
sendo o meu um traidor
terei remorso por isto
vergonha, susto e temor

- Ma se ainda ver Armando
juro dizer-lhe a verdade
que não serei dele esposa
devido esta falsidade
mas serei dele cativa
se ele tiver-me amizade

Agora encerro este assunto
porque preciso dizer
o que foi que o pai de Rosa
procurou logo fazer
na hora que ela saiu
antes do dia romper

Assim que Rosa saiu
o pai pegou um vestido
dos que ela em casa deixou
e fê-lo em sangue embebido
dum cabrito que sangrou
lá num recanto escondido

Fazendo o vestido em tiras
desceu um despenhadeiro
até chegar num riacho
aonde havia um banheiro
então semeou as tiras
ao poente do ribeiro

E com o resto do sangue
do cabrito que sangrou
ele encostado ao banheiro
a maior porção jogou
depois perto e mais longe
outras porções derramou

As seis horas da manhã
ele muito disfarçado
fez uma grande balburdia
gritando desesperado
dizendo ao povo que Rosa
um tigre havia pegado

Logo todos os vizinhos
acudiram com presteza
seguindo em busca do tigre
com desmedida afoiteza
porque a morte de Rosa
os sinais davam certeza

Com bons cachorros de caça
os homens da vizinhança
na mata o dia passaram
com sede de uma vingança
e não encontrando indício
voltaram sem esperança

Tiago Agostinho tinha
um negro de confiança
no mesmo dia de tarde
chegou-lhe à sua lembrança
de mandar o dito negro
enganar a vizinhança

No outro dia de tarde
o negro saiu dizendo:
que tinha andado na mata
e num lugar mais tremendo
encontrou o corpo de Rosa
porém num estado horrendo

Então Tiago Agostinho
com as mãos cobrindo a face
em presença dos vizinhos
disse ao negro que voltasse
ao lugar que estava o corpo
e lá mesmo sepultasse

Uma sepultura falsa
naquela mata esquisita
e negro formou sozinho
com precaução inaudita
e no dia imediato
houve ali grande visita

Logo Tiago e a esposa
vestiram luto fechado
e se espalhou a sinistra
notícia, pra todo lado
até que Armando sabendo
voltou bastante vexado

Quando chegou foi à cova
em visita fazer
na cova deu-lhe um desmaio
que andou perto de morrer
passou depois oito dias
sem quase nada comer

Com um mês não parecia
coitado, ser ele Aramando
pois não comia e passava
noites inteiras vagando
nas estradas sem destino
tristonhamente chorando

E na pedra onde Rosa
amor lhe havia jurado
uma noite muito tarde
ele na pedra ajoelhado
derramou mais duma hora
o seu pranto amargurado

Depois de ter pranteado
tristonho balbuciou
dizendo: neste lugar
foi que Rosa a mim jurou
seu amor, uma manhã
mas coitada, se acabou!

- Portanto, o dever me ordena
ir naquela mata escura
e tirar os ossos dela
de dentro da sepultura
e em cima deles matar-me
para cumprir minha jura

Armando ai como um louco
para a mata caminhou
chegando na cova de Rosa
a terra fora jogou
e ficou mais que surpreso
já quando nada encontrou

Sem chorar refez a cova
consigo mesmo a dizer:
aqui existe um mistério
e se Deus me favorecer
haverei de desvendá-lo
pois é este o meu dever

Noutro dia disse ao pai:
meu pai me faça um pedido
de vender seu sítio agora
pois eu estou resolvido
ir morar no Piaui
visto Rosa ter morrido

Amaral foi a Tiago
vendeu o sítio e saiu
e Armando de Tiago
tristonho se despediu
figindo chorar por Rosa
Tiago oculto sorriu

Armando no Piaui
disse ao pai: meu pai, agora
vou dizer-lhe um segredo
que o senhor ignora
olhe, Rosa não morreu
o certo qu'ela está fora

- O pai em minha ausência
preparou uma cilada
pois cavei a cova dela
dentro nõ encontrei nada
Amaral sabendo disso
teve uma raiva danada

Porém Armando lhe disse:
meu pai, não tenha vexame
pois Rosa aonde estiver
talvez ainda me ame
portanto, o senhor escreva
uma carta àquele infame

- Essa carta irá tarjada
lhe dizendo que morri
com um mês e oito dias
que cheguei no Piauí
e ele acreditará
sem mandar ninguém aqui

Como de fato, Amaral
para Tiago escreveu
uma carta onde mostrava
ser sincero amigo seu
narrando a morte de Armando
como melhor entendeu

Oito meses já faziam
que Rosa tinha saido
e que Aramando se mudara
ela não tinha sabido
como também da cilada
da onça haver lhe comido

Coitada, da terra dela
ela não via um vivente
empora que seu padrinho
já estava bem ciente
de tudo que se passou
só ela estava inocente

Rosa então se comparava
a uma prisioneira
procurava ninguém vê-la
e chorava a vida inteira
numa sombra projetada
por uma guabirabeira

Chorando dia ela:
oh! meu Deus, oh! pai clemente
trazei conforto e consolo
a uma pobre inocente
que sem fazer mal a ninguém
vive a sofrer cruelmente!

- Consenti Senhor, que 1 anjo
produza um sonho a Armando
que me veja assim tão triste
constantemente chorando
pra ele ficar sabendo
que vivo nele pensando

Tiago tendo a certeza
que Armando tinha morrido
sorrindo disse à mulher:
fui muito bem sucedido
pois ganhei numa empresa
que me julgava perdido

Foi a todos os vizinhos
lhe dizendo a falsidade
que tinha feito com Rosa
devido aquela amizade
pois sabia que Aramando
morria na flor da idade

Logo mandou buscar Rosa
que com seis dias chegou
então foi quando ela soube
de tudo que se passou
depois da morte de Armando
a carta o pai lhe entregou

Rosa quando viu a carta
pôs-se a chorar sua sorte
ela quando leu a carta
deu-lhe um desmaio tão forte
que passou quase uma hora
sob o domínio da morte

Mas depois que melhorou
disse ao pai bastante irada:
meu pai, a morte de Armando
fez-me uma desgraçada
porém juro que não tarda
eu também ser sepultada

- O Senhor foi o culpado
desta desgraça fatal
com mentiras criminosas
fez Constantino Amaral
vender seu sítio e sair
fazendo a Armando esse mal!

- Mas juro, enquanto for viva
viver coberta de luto
pois a lembrança de Armando
tem no meu peito um reduto
juro não partir com outro
meu amor absoluto!

Rosa depois desse dia
tomada pelo desgosto
uma mortal palidez
apareceu no seu rosto
e de Santa Madalena
fez-se o modelo composto

Vendo os seus pais o desgosto
começaram a ter receios
então para distraí-la
empregavam muitos meios
até mesmo ordenando
que ela fizesse passeios

Mas Rosa não pesseava
se comprazia em chorar
vivendo sempre num quarto
sem querer se alimentar
a bem da alma de Armando
levava a vida a rezar

Armando no Piauí
sonhou chegar-lhe um rapaz
que tinha a vestes douradas
cabelos louros pra traz
e para fitar-lhe o rosto
ninguém seria capaz

Armando lhe perguntava:
quem és tu? Donde vieste?
o rapaz lhe disse: eu sou
um mensageiro celeste
mas venho daquela pedra
onde uma jura fizeste

- Como eu fui testemunha
daquela grande amizade
que juraste a uma jovem
como doze anos de idade
venho então da parte dela
te dizer uma verdade

- Essa moça por ti vive
constantemente a chorar
e és tu que deverás
o pranto dela exugar
se não um dia o seu pranto
virá também te molhar

Armando nisso acordou
aflito e muito suado
parecendo ainda ouvir
uma voz dizendo ao lado
é necessário que cumpras
o que por ti foi jurado!

Armando disse chorando:
que coisa misteriosa!
pois bem, embora eu caia
numa falta criminosa
farei Tiago dizer
onde foi que botou Rosa

E sem demora embarcou
pro Rio Grande do Norte
destinado a encontrar Rosa
e toma-la por consorte
disposto a morrer lutando
a favor de sua sorte

Trouxe consigo um caboclo
homem sério e destemindo
então contou-lhe na viagem
o que tinha acontecido
e o amor dele por Rosa
de quando havia nascido

Tiago buscou fazer
na noite de S. João
um briquedo em sua casa
com grande reunião
para ver se Rosa achava
naquilo uma distração

Saltou Armando em Natal
nessa noite de S. João
e sobre a vida de Rosa
teve exata informação
então projetou fazer
a Tiago uma traição

Às onze horas da noite
quando Tiago Agostinho
servia seus convidados
algumas taças de vinho
viram dois vultos passar
ao poente do caminho

Não precisa que eu diga
que um vulto era Armando
e o outro era o caboclo
que vinha lhe acompanhando
e para se disfarçarem
caminhavam conversando

Armando logo avistou
sua amante idolatrada
muito magra e diferente
sem companheira, sentada
num banco em frente a fogueira
de luto desconsolada

Vendo Armando o seu estado
tão tristonha a meditar
sentiu tanta comoção
que começou a chorar
quis parar, mas o caboclo
mandou ele caminhar

Armando exugou os olhos
lhe veio então a lembrança
ir na pedra onde Rosa
ainda muito em criança
jurou de fugir com ele
com uma voz firme e mansa

Chegando Armando na pedra
depois de bem refletir
ensinou ao caboclo
como ele podia ir
levar um recado a Rosa
sem ninguém lá pressentir

O caboclo disse a ele:
pode ficar descansado
que eu já estudei um plano
para lhe dar o recado
e tenho toda certeza
que vai dar bom resultado

E sem demora seguiu
e logo chegou contente
no terreiro de Tiago
chamando o povo parente
se aproximou de Rosa
e lhe pediu aguardente

Quando bebeu aguardente
se aproximou da fogueira
dizendo então que cantava
cantigas de capoeira
o povo então fez com ele
animada brincadeira

Por fim o povo pediu
para o caboclo cantar
o caboclo bebeu mais
e depois de se sentar
com esta estrofe seguinte
entendeu de começar

- Eu venho de muito longe
do pé duma grande serra
acompanhado de alguém
mas não venho fazer guerra
vim dizer a Melancia
Coco-Verde está na terra

Rosa ouvindo essa conversa
teve um susto de tremer
e conheceu que o caboclo
procurava lhe dizer
um segredo que só ela
era capaz de saber

O caboclo conhecendo
que Rosa tinha ficado
como que sobre-saltada
olhando para o seu lado
resolveu a se calar
para ver o resultado

Mas logo Rosa lhe disse:
seu peito não é ruim
portanto cante de novo
faça esse pedido a mim
o caboclo fitou ela
e seguiu dizendo assim:

- Eu não tenho o que cantar
e outra que estou vexado
pois cheguei agora mesmo
inda não estou descansado
só vim dar de Coco-Verde
a Melancia um recado

- Se não fosse grande amigo
de alguém que ficou chorando
não me atrevia trazer
o recado que estou dando
Melancia, Coco-Verde
está na pedra esperando

Rosa fitando o caboclo
levantou-se sem demora
dizendo que ia dormir
o quarto fechou por fora
e para o lado da pedra
caminhou na mesma hora

Chegando perto da pedra
avistou um vulto junto
disse Rosa ao vulto:
responde o que te pergunto
se és anjo ou fantasma
se és vivo ou defunto?

O vulto lhe respondeu:
não tenha medo, querida
que sou Armando Amaral
a quem julgavas sem vida
venho plantar em teu peito
uma esperança perdida

Gritou Rosa: meu Armando
me escuta por caridade
eu te tinha como morto
meu Deus, que felicidade!
Jesus teve dó de mim
e descobriu-me a verdade

Logo Armando abraçou-a
louco de amor e chorando
Rosa sem poder falar
deu-lhe um beijo soluçando
quando viram o caboclo
vinha apressado chegando

Dando o braço Armando a Rosa
lhe disse: vamos querida
confia no meu critério
pois tu és a minha vida
Rosa só fez responder-lhe:
por Deus fui favorecida

Na mesma noite em Natal
saltaram em uma casa
sob a proteção dum vento
soprando de popa à proa
até chegarem em Macau
fizeram viagem boa

Saltando Armando em Macau
deu ligeiro andamento
a se esposar com Rosa
cumprindo seu juramento
e o padre da freguezia
celebrou o casamento

E escreveu a Tiago
uma carta que dizia:
"senhor Tiago Agostinho
me desculpe a ousadia
de eu carregar sua filha
para minha companhia"

"Eu sou Armando Amaral
a quem o senhor julgava
estar morto para sempre
como a carta lhe afirmava
aquilo foi para eu ver
se Rosa ressuscitava

Abrindo a cova da mata
descobri sua traição
porém gurdei o segredo
até nesta ocasião
porque já tenho a certeza
que não perdi a questão"

Vinte dias já faziam
que Rosa tinha saido
então ninguém não sabia
pra onde ela tinha ido
pelo qual já se julgava
que ela tinha morrido

Em busca dela Tiago
andava constantemente
mas para dar-lhe notícia
não encontrava um vivente
quando recebeu a carta
ficou de tudo ciente

Tiago muito zangado
pensando disse consigo:
é muito exato o adágio
usado no tempo antigo
"o amor quando é sincero
zomba do seu inimigo"

Então a felicidade
veio em socorro de Armando
enricou sem proteção
só com Rosa lhe ajudando
e Tiago arrependido
lhe pediu perdão chorando

Viveu Armando com Rosa
na mais perfeita harmonia
brincando Armando chamava
a ela de Melancia
e ela a ele Coco-Verde
mais a amizade crescia

Já demonstrei nesta história
O amor o quanto é
Só o amante sem fé
Esmorece sem vitória
Conservem pois na memória
A opinião de Armando

Mostrou seu amor lutando
E conseguiu triunfar
Luto só fez assombrar
O namorado nefando

domingo, 13 de dezembro de 2009

A HORA DO CORDEL

NO TEMPO DA MINHA INFÂNCIA
( para minhas sobrinhas Tamires, Jade e Vitória )
 
No tempo da minha infância
Nossa vida era normal
Nunca me foi proibido
Comer muito açúcar ou sal
Hoje tudo é diferente
Sempre alguém ensina a gente
Que comer tudo faz mal             1
 
Bebi leite ao natural
Da minha vaca Quitéria
E nunca fiquei de cama
Com uma doença séria
As crianças de hoje em dia
Não bebem como eu bebia
Pra não pegar bactéria               2
 
A barriga da miséria
Tirei com tranquilidade
Do pão com manteiga e queijo
Hoje só resta a saudade
A vida ficou sem graça
Não se pode comer massa
Por causa da obesidade            3
 
Eu comi ovo à vontade
Sem ter contra indicação
Pois o tal colesterol
Pra mim nunca foi vilão
Hoje a vida é uma loucura
Dizem que qualquer gordura
Nos mata do coração                4
 
Com a modernização
Quase tudo é proibido
Pra tudo tem uma Lei
Que nos deixa reprimido
Fazendo tudo que eu fiz
Hoje me sinto feliz
Só por ter sobrevivido                5
 
Eu nunca fui impedido
De poder me divertir
E nas casas dos amigos
Eu entrava sem pedir
Não se temia a galera
E naquele tempo era
Proibido proibir                          6
 
Vi o meu pai dirigir
Numa total confiança
Sem apoio, sem air-bag
Sem cinto de segurança
E eu no banco de trás
Solto, igualzinho aos demais
Fazia a maior festança              7
 
No meu tempo de criança
Por ter sido reprovado
Ninguém ia ao psicólogo
Nem se ficava frustrado
Quando isso acontecia
A gente só repetia
Até que fosse aprovado              8
 
Não tinha superdotado
Nem a tal dislexia
E a hiperatividade
É coisa que não se via
Falta de concentração
Se curava com carão
E disso ninguém morria             9
 
Nesse tempo se bebia
Água vinda da torneira
De uma fonte natural
Ou até de uma mangueira
E essa água engarrafada
Que diz-se esterilizada             
Nunca entrou na nossa feira       10
 
Para a gente era besteira
Ter perna ou braço engessado
Ter alguns dentes partidos
Ou um joelho arranhado
Papai guardava veneno
Em um armário pequeno
Sem chave e sem cadeado        11
 
Nunca fui envenenado   
Com as tintas dos brinquedos
Remédios e detergentes
Se guardavam, sem segredos
E descalço, na areia
Eu joguei bola de meia
Rasgando as pontas dos dedos    12
 
Aboli todos os medos
Apostando umas carreiras
Em carros de rolimã
Sem usar cotoveleiras
Pra correr de bicicleta
Nunca usei, feito um atleta,
Capacete e joelheiras                13
 
Entre outras brincadeiras
Brinquei de Carrinho de Mão
Estátua, Jogo da Velha
Bola de Gude e Pião
De mocinhos e Cawboys
E até de super-heróis
Que vi na televisão                    14
 
Eu cantei Cai, Cai Balão,
Palma é palma, Pé é pé
Gata Pintada, Esta Rua
Pai Francisco e De Marré
Também cantei Tororó
Brinquei de Escravos de Jó
E o Sapo não lava o pé              15
 
Com anzol e jereré
Muitas vezes fui pescar
E só saía do rio
Pra ir pra casa jantar
Peixe nenhum eu pegava
Mas os banhos que eu tomava
Dão prazer em recordar             16
 
Tomava banho de mar
Na estação do verão
Quando papai nos levava
Em cima de um caminhão        
Não voltava bronzeado
Mas com o corpo queimado
Parecendo um camarão             17
 
Sem ter tanta evolução
O Playstation não havia
E nenhum jogo de vídeo
Naquele tempo existia
Não tinha vídeo cassete
Muito menos internet
Como se tem hoje em dia          18    

  
O meu cachorro comia
O resto do nosso almoço
Não existia ração
Nem brinquedo feito osso
E para as pulgas matar
Nunca vi ninguém botar
Um colar no seu pescoço          19    

              
E ele achava um colosso
Tomar banho na mangueira
Ou numa água bem fria
Debaixo duma torneira
E a gente fazia farra
Usando sabão em barra
Pra tirar sua sujeira                   20  

                
Fui feliz a vida inteira
Sem usar um celular
De manhã ia pra aula
Mas voltava pra almoçar
Mamãe não se preocupava
Pois sabia que eu chegava
Sem precisar avisar                   21  

                
Comecei a trabalhar
Com oito anos de idade
Pois o meu pai me mostrava
Que pra ter dignidade
O trabalho era importante
Pra não me ver adiante
Ir pra marginalidade                   22    

Mas hoje a sociedade
Essa visão não alcança
E proíbe qualquer pai
Dar trabalho a uma criança
Prefere ver nossos filhos
Vivendo fora dos trilhos
Num mundo sem esperança      23     

A vida era bem mais mansa,
Com um pouco de insensatez.
Eu me lembro com detalhes
De tudo que a gente fez,
Por isso eu tenho saudade
E hoje sinto vontade
De ser criança outra vez...         24
 
 Ismael Gaião - Recife, 11/12/09

LANÇAMENTO DO LIVRO DE ZÉ VICENTE


NOTICIAS DO CANGAÇO

PROJETO ARTES DO CANGAÇO EM CENA

A Cidade de Serra Talhada distingue-se, cada vez mais, pela pluralidade cultural característica da região do Sertão Pernambucano. Hoje com a Fundação Cabras de Lampião que administra o ponto de Cultura Artes do Cangaço e o Museu do Cangaço vem trabalhando com insistência e uma atitude digna de resistência e guerrilha cultural. Nos meses de dezembro, janeiro, fevereiro a cidade recebe o ator e diretor de teatro Cassiano Gomes que escolheu o Ponto de Cultura para executação do projeto “Artes do Cangaço em Cena”.

Serão desenvolvidas as atividades voltadas à qualificação teatral do Grupo de Xaxado Cabras de Lampião, oficina gratuita de teatro aberta à comunidade, oficina de dramatização musical (musica em cena), fórum, encontros e debates bem como pesquisas em todas as áreas do conhecimento regionalista, pensando em conjunto no realizar integrado de diversas formas de manifestações artísticas.
Congregado a uma rede de pensamentos em torno do fazer teatral como ferramenta de integração, este projeto é uma iniciativa bem-sucedida e inovadora para o alto Sertão Pernambucano.

Para maiores informações:

KARL MARX SANTOS SOUZA
PONTO DE CULTURA ARTES DO CANGAÇO
FUNDAÇÃO CULTUAL CABRAS DE LAMPIÃO
Serra Talhada – PE.
Telefones :
(87) 3831 2041 (Fundação)
(87) 38 31 3 860 (Museu do Cangaço, falar com Cassiano Gomes)
(87) 9616 2017 (Karl Marx)
(87)  9938 6035 (Anildomá)
(87) 9918 5533 (Cleonice Maria)
Site:
www.cabrasdelampiao.com.br
Blog: www
.artesdocangacoemcena.blogdpot.com
E-mail: boletimcangacoemcena@gmail.com
Orkut: http://www.orkut.com.br/Main#Community?rl=cpp&cmm=96523978Realização:
Cultura viva/ FUNARTE/ Secretaria de Cidadania Cultural/ Ministério da Cultura/ Gove rno Federal

Apoio:
Fundação Cabras de Lampião/ SEBRAE/ Ponto de Cultura Artes do Cangaço
"Esta iniciativa integra o Prêmio Interações Estéticas-Residências Artísticas em Pontos de Cultura"

domingo, 6 de dezembro de 2009

OLHA O CORDEL!!!!

Vejam que Obra de arte dos poetas Vinicios Gregório e Bras ivan!!


De onde nasce o meu verso

Meu verso nasce enrolado
Num tronco de marmeleiro,
Vai sugando a sua seiva,
Adquirindo o seu cheiro,
Depois de um mês ninguém sabe
Quem foi que nasceu primeiro.

Meu verso nasce ligeiro,
Basta surgir um motivo...
Como o capim que, na seca,
Parece morto, inativo,
E no primeiro sereno
Demonstra o verde mais vivo!

Meu verso nasce cativo
Das regras da cantoria...
Quando cresce toma forma,
Consegue sua alforria,
Depois de livre engravida
E pare mais poesia.


Nasce sem sabedoria,
Mas sabe falar em tudo...
Erra muito o português,
Mas é rico em conteúdo,
Que um verso pra nascer bom
Não é necessário estudo!

Meu verso nasce miúdo
Como a nascente de um rio,
Mas se encontrar outro verso
Que tenha o mesmo feitio,
Lava o roçado da alma,
Transforma tudo em baixio...


Meu verso é filho do CIO
Que tenho constantemente,
Desejando INSPIRAÇÃO
Pra transar com minha mente
E dessa “transa” sair
Outro filho do repente...

 Terra molhada e semente,
No mais fecundoso enlace,
Um doce pranto escorrendo
Por entre as grotas da face,
São, de certo modo, iguais
Ao verso meu quando nasce.


Não tem discórdia ou impasse,
Meu verso flui sem maldade.
É fruto dos sentimentos
Que têm mais sinceridade:
Alegria, paz e amor,
Tristeza, dor e saudade!!

Quando a inspiração invade
Com violência o meu peito,
Submete o coração
O deixa ao amor sujeito,
Rasga a veia do improviso
E versos nascem de eito.


É nesse instante perfeito,
Que o coração sofredor,
Fica totalmente isento
De partículas de dor
E o verso sai Leve e solto
Quando eu vou falar de amor!

Se os ventos do dissabor
Deixam meu peito disperso,
Passam pela minha alma
Virando tudo ao inverso...
Deus manda um vento de rima
Pra transformar tudo em verso.


Fico, às vezes, submerso
Nas águas das agonias,
Vendo um mundo desumano
Cercado de hipocrisias...
E tento agüentar a vida
Com pitadas de poesias.

São muitas as ventanias
Que inflam as minhas velas.
No barco da minha vida
Enfrentei muitas procelas...
Depois de um tempo aprendi
A fazer versos com elas.

 


Eu ando abrindo cancelas
Só por saber versejar...
Tendo versos na bagagem
Eu entro em qualquer lugar.
Onde a poesia não entra,
Nada mais consegue entrar

Nasci sem saber rimar,
Pois ninguém nasce sabendo,
Mas quando vi meu sertão
Com a seca padecendo,
Vi misturado ao meu pranto
Um verso novo nascendo


Meu verso vem florescendo,
Devagar e em linha reta...
Vai ganhando corpo e forma,
Deixa minh’alma completa,
No fim do verso eu me orgulho
De ter nascido poeta!

Minha mente só se aquieta
Depois que pare um repente,
Enquanto não pare fica
Mandando, insistentemente,
Telegramas de improviso
Pro meu subconsciente.


Feito água na nascente
Meu verso vive jorrando...
Ele está pronto na mente
Assim que vou começando.
E quando eu termino um verso,
Outro já vem se formando.

Até quando estou sonhando
Com mar, montanha e relevo;
Quando me pego indeciso
Se devo amar ou não devo;
Eu sou encontro respostas
Nos muitos versos que escrevo.


Nas folhas brancas transcrevo
As falas do coração...
E quem quiser parir verso,
Eu dou minha sugestão:
Ame alguém, sinta saudade,
Ou passe um mês no Sertão!!

Brás e Vinícius