Quem Somos

Minha foto
Recife, Pernambuco, Brazil
O Blog Educar com Cordel é editado pelo poeta e escritor Paulo Moura, Professor de História e Poeta CORDELISTA. Desenvolve o projeto EDUCAR COM CORDEL que visa levar poesia e literatura de cordel para as salas de aula, ensinando como surgiu a Literatura de Cordel, suas origens, seus estilos, suas heranças. O Projeto Educar com Cordel é detentor do Prêmio Patativa do Assaré de Literatura de Cordel do MINC (Ministério da Cultura).

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Mensagem do Poeta Jorge Filó - NO PÉ DA PAREDE

CHICO NO REINO ENCANTADO

cdd2
Mestre Chico de Dedês

Seu nome de pia era Francisco Bernardo de Menezes, famoso nas regiões do Cariri-PB e Pajeú-PE, como Chico de Dedês, de quem ouvi falar e contar histórias desde que me entendo por gente. Nasceu no sitio Olho d´gua, no município de Ouro Velho, antigo Boi Véi, na Paraíba, em 08 de março de 1930.

Infelizmente veio a falecer nesta segunda, dia 22, na mesma cidade onde nasceu e viveu a vida toda.

Chico pertencia a família Bernardo de Menezes, da qual também sou descendente por parte de pai e mãe, e tenho muito orgulho em ser seu parente com tanta consangüinidade. Meu pai, Manoel Filó, foi grande amigo de Chico e parceiro em noitadas de cantorias, forrós e prosas.

Era um desses sertanejos, de recursos parcos, mas de riqueza de caráter, honestidade, ética e moral, inestimável. Conhecido e reconhecido por todos da região onde passou a vida. Era também característica sua, a prosa, cheia de improviso, presença de espírito e inteligência, em inúmeras tiradas. Um gozador nato.

Tive a honra de conhecer, e conviver, com o Mestre Chico de Dedês – Dedês apelido de sua mãe, que teve vários filhos. Em uma ocasião, ajudava Felizardo Moura, filho do Mestre Zé de Cazuza, na realização de um festival de repentistas na Prata-PB, cidade vizinha e coirmã de Ouro Velho. Estávamos recolhendo objetos antigos para decoração do palco – ferro de passar a brasa, um quadro do Coração de Jesus, bancos de madeira compridos… – quando encontramos Chico na praça de Ouro Velho;

- Chico, tu num tem uns troços antigos pra ajudar a gente não?
- Tem uma conta minha no bar de Cláudio, se quiserem levar!

cdd1
O Mestre Zé de Cazuza, o artista imitador Nildim, o Mestre Chico de Dedês e meu pai Manoel Filó, em Ouro Velho

OUTRA HISTÓRIA DE CHICO

Não faz muito tempo, em uma cantoria de viola, em Ouro Velho, os assistentes, empolgados com o desempenho dos mestres do improviso, foram bastante benevolentes em suas contribuições na bandeja – esta usada para paga dos artistas – onde se viam várias cédulas de alto valor para região; 50, 20 e as menores de 10 reais.

Chico, grande admirador dos cantadores, levanta-se do tamborete onde está sentado e se dirigi a bandeira, arrasta duas notas surradas de dois reais, e faz sua paga aos repentistas. De volta a seu assento, é indagado por um conterrâneo;

- Mas Chico, só tinha nota grande na bandeja, tu vai e só bota uma mixaria daquela.
- Pelo menos eu botei tudo que tinha no bolso!

RESPOSTAS LIGEIRAS

Nas veredas;
- Chico, tu viu umas cabeças de bode correndo por ai?
- Se tivesse visto quem tava correndo era eu!

Um conselho
- Chico, meu irmão agora quando bebe sai correndo pru meio do mato. O que é que eu faço?
- Amarra um chocalho nele!

Pagando as contas
- Chico, se tu ganhasse na loteria tu fazia o que?
- Pagava umas contas de bar que eu tenho.
- E com o resto?
- Eu pagava quando ganhasse de novo!

Descansado
Batem na sua porta:
- O que é?
- Uma esmolinha!
- Passe por debaixo da porta!

Esperando a deixa
Admirando o açude novo do patrão;
- E eu ainda vou levantar o paredão dois metros!
- Ai a água vai embora todinha por baixo!

Este era o Mestre Chico de Dedês. Mas um gênio que se despede do mundo terreno!

A benção Mestre!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comenta aí: