VIDA E VERSOS , do Poeta Gonga Monteiro (artigo retirado do site Besta Fubana)
Continuando o passeio pelo Pajeú, com os poetas Felipe Júnior, Raphael Moura e Kerlle de Magahães, no dia 28 de janeiro, tive a felicidade de participar do lançamento dos livros: “Meu Quarto Baú de Rimas” (poeta Dedé Monteiro) e “Vida e Versos” (poeta Gonga Monteiro), na cidade de Tabira.
A fila de autógrafos foi enorme durante toda a solenidade. Segunda a poetisa Verônica Sobral, “Era um público sedento por poesia, que aplaudia a cada verso dito no palco! Um dos maiores eventos realizados até hoje no nosso município! Um show de cultura, de verso, de poesia… Um desfile de poetas no palco encantando o público!”
O livro Vida e Versos é tão bom quanto o seu autor. Poeta de altíssima qualidade, repentista amador - porque quer, deveria ser profissional – pintor, desenhista, escultor, pedreiro, serralheiro, eletricista e marceneiro, Gonga Monteiro é, acima de tudo um grande humorista poético e um ser humano de bem com a vida e com os amigos. Sempre com esse sorriso estampado na cara.
Em sua primeira obra publicada, o poeta demonstra o quanto é eclético. Nesse livro, Gonga decanta o amor, a amizade, a fé em Deus, a saudade, a felicidade e, principalmente, o bom humor.
Dessa sua obra, escolhi, com dificuldades, esses dois poemas para que o público tenha ideia da qualidade do livro e do autor.
Em sua primeira obra publicada, o poeta demonstra o quanto é eclético. Nesse livro, Gonga decanta o amor, a amizade, a fé em Deus, a saudade, a felicidade e, principalmente, o bom humor.
Dessa sua obra, escolhi, com dificuldades, esses dois poemas para que o público tenha ideia da qualidade do livro e do autor.
O MENINO E O CRENTE
Lá perto da minha casa,
Outro dia eu vi um crente
Interrogando um menino
Que chega a ser meu parente,
Dos que eu só não vi nascer,
E o que tinha pra dizer
Não deixava pra depois…
Eu, de onde vinha não sei,
Mas, sem querer, escutei
A conversa deles dois.
Outro dia eu vi um crente
Interrogando um menino
Que chega a ser meu parente,
Dos que eu só não vi nascer,
E o que tinha pra dizer
Não deixava pra depois…
Eu, de onde vinha não sei,
Mas, sem querer, escutei
A conversa deles dois.
O crente era forasteiro,
Desconhecido no meio
E andava atrás de saber
Onde ficava o Correio.
O menino, muito esperto,
Mostrou o caminho certo,
Ensinou tudo direito.
E o nobre religioso,
Muito calmo e piedoso,
Lhe agradeceu desse jeito:
Desconhecido no meio
E andava atrás de saber
Onde ficava o Correio.
O menino, muito esperto,
Mostrou o caminho certo,
Ensinou tudo direito.
E o nobre religioso,
Muito calmo e piedoso,
Lhe agradeceu desse jeito:
“Muito obrigado, meu filho!
Deus é bom, muito obrigado!
Eu sou pastor de uma igreja
Logo ali do outro lado.
Quando lá puder passar,
Eu poderei lhe mostrar
A caminhada da luz,
Uma estrada sem espinho,
E lhe ensinar o caminho
Da morada de Jesus!”
Deus é bom, muito obrigado!
Eu sou pastor de uma igreja
Logo ali do outro lado.
Quando lá puder passar,
Eu poderei lhe mostrar
A caminhada da luz,
Uma estrada sem espinho,
E lhe ensinar o caminho
Da morada de Jesus!”
O menino, muito ativo
Quando ouviu essa lorota,
Disse: “o senhor tá pensando”
Que eu sou algum idiota?
Já vi que tô muito mole…
Fique calmo, se controle,
Só me faltava essa agora…
Donde diabo o senhor veio?
Não sabe onde é o Correio,
Sabe onde é que Jesus mora!!!
Quando ouviu essa lorota,
Disse: “o senhor tá pensando”
Que eu sou algum idiota?
Já vi que tô muito mole…
Fique calmo, se controle,
Só me faltava essa agora…
Donde diabo o senhor veio?
Não sabe onde é o Correio,
Sabe onde é que Jesus mora!!!
ESTÓRIA DE CANTADOR
Nessa arte da viola
Tem muita gente engraçada;
Poetas que cantam tudo,
Outros que não cantam nada.
Eu admiro demais
O cantador quando faz
Uma estrofe de improviso,
E fico a me perguntar:
Como ele pode tirar
Tudo aquilo do juízo?
Tem muita gente engraçada;
Poetas que cantam tudo,
Outros que não cantam nada.
Eu admiro demais
O cantador quando faz
Uma estrofe de improviso,
E fico a me perguntar:
Como ele pode tirar
Tudo aquilo do juízo?
O camarada cantar
Um mote não sei de quem
É como se colocar
No lugar daquele alguém;
Procurar sentir no peito
Quase que do mesmo jeito
As coisas que outro sente.
Pode não ser coisa estranha,
Mas quem faz essa façanha
É, no mínimo, diferente.
Um mote não sei de quem
É como se colocar
No lugar daquele alguém;
Procurar sentir no peito
Quase que do mesmo jeito
As coisas que outro sente.
Pode não ser coisa estranha,
Mas quem faz essa façanha
É, no mínimo, diferente.
Mas é coisa estranha sim;
Natural não pode ser.
Como é que nós não fazemos
E o peste sabe fazer?
Eu que às vezes tenho dito
Que faço verso bonito,
Se fosse me comparar
Com ele que sabe tudo,
Ficaria tão miúdo
Que não é bom nem pensar.
Natural não pode ser.
Como é que nós não fazemos
E o peste sabe fazer?
Eu que às vezes tenho dito
Que faço verso bonito,
Se fosse me comparar
Com ele que sabe tudo,
Ficaria tão miúdo
Que não é bom nem pensar.
Mas, como eu tava dizendo,
Nesse mundo da viola
Tem cantador escolado,
Tem cantador sem escola.
Cantando certo ou errado,
Ninguém quer ficar parado,
Todos desejam cantar;
Muitos porque cantam bem
E muitos porque não têm
Coragem de trabalhar.
Nesse mundo da viola
Tem cantador escolado,
Tem cantador sem escola.
Cantando certo ou errado,
Ninguém quer ficar parado,
Todos desejam cantar;
Muitos porque cantam bem
E muitos porque não têm
Coragem de trabalhar.
Foi isso o que aconteceu
Com um lá do meu rincão.
Queria porque queria
Viver dessa profissão.
Quase todo santo dia
Ia atrás de cantoria
Como um cão atrás de osso.
Mas não conseguia nada,
Voltava de madrugada
Sem nem um tostão no bolso.
Com um lá do meu rincão.
Queria porque queria
Viver dessa profissão.
Quase todo santo dia
Ia atrás de cantoria
Como um cão atrás de osso.
Mas não conseguia nada,
Voltava de madrugada
Sem nem um tostão no bolso.
E a mulher dizia assim:
“Marido, toma cuidado!
Procura outra profissão
Que tu tás no ramo errado…
Arruma um taco de terra,
Bota uma roça na serra
Que de lá a gente come.
Mas assim, de cantoria,
Tu vai matar qualquer dia
Nossa família de fome.”
“Marido, toma cuidado!
Procura outra profissão
Que tu tás no ramo errado…
Arruma um taco de terra,
Bota uma roça na serra
Que de lá a gente come.
Mas assim, de cantoria,
Tu vai matar qualquer dia
Nossa família de fome.”
E ele atendia a mulher?
Quem disse que ele atendia?
Quando era na outra noite
A cena se repetia.
E ele voltava de novo
Botando a culpa no povo,
Sem saber o que fazer.
A mulher aperreada,
A panela sem ter nada
E a família sem comer.
Quem disse que ele atendia?
Quando era na outra noite
A cena se repetia.
E ele voltava de novo
Botando a culpa no povo,
Sem saber o que fazer.
A mulher aperreada,
A panela sem ter nada
E a família sem comer.
O pior é que a mulher
Quando ficava arretada,
Dizia, batendo o pé:
“Tu nunca cantasse nada!
Abandona essa viola,
Deixa de pedir esmola,
Oh sina triste essa minha!
Me casar com um vagabundo
Que passa o dia no mundo
E eu lascada na cozinha!…”
Quando ficava arretada,
Dizia, batendo o pé:
“Tu nunca cantasse nada!
Abandona essa viola,
Deixa de pedir esmola,
Oh sina triste essa minha!
Me casar com um vagabundo
Que passa o dia no mundo
E eu lascada na cozinha!…”
Até que, uma certa vez,
Lá pras bandas do Mercado,
Ele encontrou um colega
E um lugar apropriado.
Começaram a cantoria
Juntou uma freguesia
De matuto e cachaceiro,
Que a bandejinha, depois,
De dez, de cinco e de dois,
Não cabia mais dinheiro…
Lá pras bandas do Mercado,
Ele encontrou um colega
E um lugar apropriado.
Começaram a cantoria
Juntou uma freguesia
De matuto e cachaceiro,
Que a bandejinha, depois,
De dez, de cinco e de dois,
Não cabia mais dinheiro…
Quase não acreditando
No que estava acontecendo,
Continuaram cantando
E o apurado crescendo…
Só de comida grosseira
Fez ali mesmo uma feira,
Um saco bem dessa altura…
Milho, farinha, feijão,
Sal, manteiga, macarrão,
Pão, bolacha e rapadura.
No que estava acontecendo,
Continuaram cantando
E o apurado crescendo…
Só de comida grosseira
Fez ali mesmo uma feira,
Um saco bem dessa altura…
Milho, farinha, feijão,
Sal, manteiga, macarrão,
Pão, bolacha e rapadura.
A mulher, doidinha em casa,
Sem nem feijão ter comido,
Resolveu dar umas voltas
Pra ver se achava o marido.
Braba feito uma serpente,
No calor do sol ardente,
Pelas ruas da cidade,
Dizia: “hoje ele me paga!
Aquele fi duma praga
Sem responsabilidade!”
Sem nem feijão ter comido,
Resolveu dar umas voltas
Pra ver se achava o marido.
Braba feito uma serpente,
No calor do sol ardente,
Pelas ruas da cidade,
Dizia: “hoje ele me paga!
Aquele fi duma praga
Sem responsabilidade!”
Da calçada do Mercado
Quando espiou lá pra dentro,
Viu uma roda de gente
E o seu marido no centro.
Pensou que fosse uma briga,
Mas viu que era uma cantiga,
Um espetáculo tão lindo!
Ficou pasmada, escutando
O seu marido cantando
E o povo todo aplaudindo.
Quando espiou lá pra dentro,
Viu uma roda de gente
E o seu marido no centro.
Pensou que fosse uma briga,
Mas viu que era uma cantiga,
Um espetáculo tão lindo!
Ficou pasmada, escutando
O seu marido cantando
E o povo todo aplaudindo.
O outro educadamente,
Puxando a rima de “EIRA”,
Findou um verso dizendo:
“Chegou sua companheira”,
Quando ele pegou na deixa,
Dizendo desta maneira:
Puxando a rima de “EIRA”,
Findou um verso dizendo:
“Chegou sua companheira”,
Quando ele pegou na deixa,
Dizendo desta maneira:
“Muié, tá aí a feira!…
Veja se dá até “sabo”;
Milho, feijão, macaxeira,
Papé pá limpá o rabo,
Veja se dá até “sabo”;
Milho, feijão, macaxeira,
Papé pá limpá o rabo,
Pão que ninguém sabe o tanto…
Agora diz que eu num canto,
Quenga dos seiscentos diabo!”
Agora diz que eu num canto,
Quenga dos seiscentos diabo!”
Ótimo poeta, o cara mostrou cantiga e se deu bem só faltava acerta na vêia acertou pronto!!!!Um abraço Carlos Aires
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