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Recife, Pernambuco, Brazil
O Blog Educar com Cordel é editado pelo poeta e escritor Paulo Moura, Professor de História e Poeta CORDELISTA. Desenvolve o projeto EDUCAR COM CORDEL que visa levar poesia e literatura de cordel para as salas de aula, ensinando como surgiu a Literatura de Cordel, suas origens, seus estilos, suas heranças. O Projeto Educar com Cordel é detentor do Prêmio Patativa do Assaré de Literatura de Cordel do MINC (Ministério da Cultura).

sábado, 14 de novembro de 2009

A Sina de Um Passarinho (Raphael Moura)

O Poeta Raphael Moura é músico violonista, poeta Cordelista e amante da cultura nordestina. Abaixo, confira uma de suas mais belas poesias!



A sina de um Passarinho

Avistei um passarinho
Na casa do meu parente
Numa gaiola, Sozinho
Com sede, fome, doente
Chorando desconsolado
Pois tinha se separado
Da sua esposa queria
Que deixou no seu Sertão
Seu filho, seu pai, irmão
E um pedaço da vida

Perguntei do seu passado
Me olhou com “ar” de riso
Me falando emocionado:
- Voltar pra casa eu preciso!
Deixei meu filho chorando
Minha mulher Soluçando
Desacordada no chão
Depois que me viu cantando
Como a tivesse chamando
Sendo preso num Alçapão

Meu filho me perguntou
Com os olhos lacrimejando:
- Por que é que o senhor entrou?
O que tava procurando?
Comida para vocês
A fome pegou nós três
Não tinha como arranjar
Alimento nessa hora
E eu acho que eu vou embora
Me prendeu,  quer me levar.

O Homem que me levou
La dentro botou comida
Quando eu entrei, me trancou
Depois daí, minha vida
Perdeu a graça e a verdade
Só por que sinto saudade
Do meu filho e minha amada
Mamãe se não fosse morta
Abriria aquela porta
Deixava ele fazer nada.

Seu moço, aqui sou sozinho
Tenho gaiola e comida
Mas não tem um passarinho
Que tem amor nessa vida
Morando longe de casa
É mesmo que não ter asa
É não saber mais voar
O dia não é mais dia
Não sinto mais alegria
Me leve pro meu lugar

Ontem mesmo eu tive um sonho
No cochilo da tardinha
Meu filho tomando banho
Minha mulher na cozinha
Sorrindo, toda animada
Fazendo uma feijoada
Pro meu sobrinho, o Anu
Meu primo também chegava
E eu quase me embriagava
Oh falta do Pajeú

Aqui mora a solidão
Faz companhia comigo
Aqui, vivo na prisão
Viver feliz não consigo
To pagando uma sentença
Se for por “Obidiênça”
Já era pra’eu ta voando
Mas espero paciente
Sou uma ave valente
Me solto e volto voando

Eu só lhe peço um favor
Que me abra essa portinha
Agradeça ao seu Avô
É cedo, mas à tardinha
Já quero está no Sertão
Cantando para o verão
Transformar em invernada
Ver o rio transbordando
Ver as estrelas brilhando
No palco da madrugada

Fiquei muito emocionado
Ao falar de minha vida
Por que fico indignado
Não tendo mais a guarida
Que eduquei meu filhinho
Que hoje, ta lá, sozinho.
Me esperando aparecer
Se você não me soltar
Pra eu ficar neste Lugar?
Eu acho melhor Morrer!

Raphael Moura

Um comentário:

  1. Que linda história!

    Eu fiquei emocionada
    ao ler poema tão belo
    de versos elaborados
    em um modo tão singelo
    cria em nós a vontade
    de mostrar à humanidade
    que a gaiola rompe o elo

    abçs!

    Érica Montenegro - Cordelista

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