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Recife, Pernambuco, Brazil
O Blog Educar com Cordel é editado pelo poeta e escritor Paulo Moura, Professor de História e Poeta CORDELISTA. Desenvolve o projeto EDUCAR COM CORDEL que visa levar poesia e literatura de cordel para as salas de aula, ensinando como surgiu a Literatura de Cordel, suas origens, seus estilos, suas heranças. O Projeto Educar com Cordel é detentor do Prêmio Patativa do Assaré de Literatura de Cordel do MINC (Ministério da Cultura).

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

UM PRESENTE EM FORMA DE LETRAS

O mês de agosto para mim foram de grandes e boas surpresas. Fiz duas viagens para o sertão do Pajeú, acompanhado de grandes amigos, a saber: Poeta Bras Ivan e Felipe Junior. No decorrer da viagem tive a honra de conhecer figuras ilustres, como Fátima Marcolino, filha do nosso saudoso poéta. Tive o prazer de desfrutar de alguns momentos poéticos com cabras do calibre de um Aldo Neves, Felizardo Moura, Antenor, Hercules Nunes, etc.
Foram encontros memoráveis que ainda hoje estão gravados na minha memória.
E, para completar minhas alegrias de agosto, esse mês de cachorro doido, me deparo com um email de ninguem mais ninguem menos que a escritora, poeta e psicóloga Sonia Carneiro Leão, onde a mesma teceu um comentário sobre meu livro LAMPIÃO, A TRAJETÓRIA DE UM REI SEM CASTELO e me enviou em forma de artigo.
Este, para mim, foi o maior presente que recebi e o melhor comentário acerca de um trabalho literário que muito me orgulha que é a pesquisa do Cangaço.
Abaixo, fiz questão de postar este artigo. Porque uma coisa dessas não se pode ler e guardar. A gente tem mesmo é que mostrar pro povo. Não acham?
Leia abaixo:

"Comentários sobre o livro Lampião, A trajetória de um Rei sem Castelo, de Paulo Moura"
                                                        Sonia Carneiro Leão

“Somos tudo a mesma coisa”, disse Antônio das Mortes, matador de cangaceiro, no filme de Glauber Rocha, Deus e o Diabo na Terra do Sol quando conversava com um beato, após a matança de todos os seguidores de Santo Sebastião. No sertão quente e sedento a única coisa em comum era a miséria. O rico, minoria absoluta, exercia o controle da população, explorando-a cruelmente sem lhe dar alternativa de sobrevivência. A morte passava então a ser algo banal com o que todos deviam conviver e se acostumar. A palavra violência não podia ter alcance ético algum, pois o sofrimento desmesurado causado pela fome, sede, e a mais radical pobreza, já era, em si, a representação mais precisa de uma violência sem trégua. Sofrer ou sofrer era o destino daquela gente atormentada pela falta de esperança. Quem tivesse talento para oferecer algum sonho, alguma ilusão, carregaria atrás de si muitos seguidores. Isso foi feito por vários beatos que conseguiram arrastar rebanhos de gente que vinham  buscar a promessa de uma vida mais feliz no paraíso.  

Lampião, homem oriundo deste mundo perverso encontrou, na guerra ao regime, uma opção contra o caos que já havia se instalado em sua vida, principalmente após o assassinato covarde cometido contra seu pai. Teria Lampião se tornado um homem frio e sanguinário ou alguém em busca de justiça? Difícil questão que acaba ficando sem resposta no livro de Paulo Moura, Lampião, a Trajetória de um Rei sem Castelo.

Paulo Moura vai, pouco a pouco, nos introduzindo, através da força de sua narrativa, para dentro do contexto social existente naquele momento da história, momento em que o povo nordestino vivia completamente excluído de qualquer programa assistencial oferecido pela recém proclamada República, esquecido e abandonado à própria sorte, distante das riquezas do país, entregue à voracidade e arrogância de uns poucos favorecidos. A quem apelar? Onde a Lei? Lampião fez a sua, a seu modo e trouxe com ele os muito rejeitados do sistema de então que não tinham outra coisa a devolver ao mundo se não a violência com a qual foram submetidos ao longo de suas vidas.

Lampião era do Bem ou do Mal? Essa questão, Paulo deixa em aberto para seus leitores concluírem da forma que lhes aprouver. Ele apenas narra os fatos históricos, rigorosamente pesquisados, com muita clareza e emoção permitindo que o leitor tire a sua própria conclusão. Conseguimos sentir, ao longo do livro, o sofrimento do povo, a revolta dos cangaceiros, a violência exercida de ambos os lados, o dos cangaceiros e o da polícia até chegarmos ao final da história.

E ficamos nos perguntando se está sendo dado, nos dias atuais,  tratamento digno e ético às populações pobres do nordeste deste país.

Lampião, A trajetória de um Rei sem Castelo, é um livro belo que homenageia a coragem e a bravura de um povo e que muito engrandece a história do Brasil.

Recife, 25 de agosto de 2011

Um comentário:

  1. Paulo Moura,

    Seu trabalho merece tudo isso e muito mais! Você é tão consciente que deixa espaço pra que o leitor pense e tire as suas próprias conclusões.

    Dedé Monteiro

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