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Recife, Pernambuco, Brazil
O Blog Educar com Cordel é editado pelo poeta e escritor Paulo Moura, Professor de História e Poeta CORDELISTA. Desenvolve o projeto EDUCAR COM CORDEL que visa levar poesia e literatura de cordel para as salas de aula, ensinando como surgiu a Literatura de Cordel, suas origens, seus estilos, suas heranças. O Projeto Educar com Cordel é detentor do Prêmio Patativa do Assaré de Literatura de Cordel do MINC (Ministério da Cultura).

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

A ARTE DE NARRAR – A LITERATURA DE CORDEL



A Literatura de Cordel é uma herança e um legado trazidos pelos irmãos de além mar, a saber, Portugal, França, Inglaterra, Espanha, etc. E que veio fazer pouso nos rincões nordestinos do Pajeú de Flores.
Nosso primeiro artífice, que transformou esta Literatura estrangeira moldando-a ao nosso estilo e ao nosso gosto foi o cantador Agostinho Nunes da Costa. Posteriormente outros grandes foram surgindo, como Ugolino de Sabugi, entre outros.
Com a introdução, tardia, da imprensa no Brasil - este o ultimo país das Américas a dispor de uma imprensa - este tipo de literatura sofreu diversas fases de incompreensão e vicissitudes, ao contrário de outros países onde ela é normalmente aceita e incluída nos estudos oficiais de literatura, a literatura de cordel, mesmo com a sua vasta biografia e a enorme produção de folhetos, continua ainda em boa parte desconhecida do grande público, principalmente por causa da distribuição efêmera dos folhetos.
Contudo, mesmo sofrendo diversas transformações tanto na escrita como na fala, este tipo de literatura preserva a sua principal arte. A arte da narrativa.
O poeta, não só sente a vontade de passar em forma de poesia e de narrativa, aquilo que sente como também tem a necessidade de fazê-lo.
Quantas e quantas pessoas de certa idade, não nos vem testemunhar que o Cordel, foi para elas a primeira ferramenta para o aprendizado. Para o conhecimento da leitura e das coisas do mundo. Das estórias fantásticas contadas pelos cordelistas e cantadas nas feiras do interior.
A arte da narrativa é coisa tão fantástica que é sabido que a maioria dos vendedores de Folhetos que comercializavam nas feiras, não sabiam ler. Eles ouviam o poeta recitar, decoravam e, com o cordel nas mãos recitavam na feira, fazendo a delícia daquela gente pobre e ávida por novidades.
E é dentro deste panorama que mistura o real com o imaginário, o fantástico com o circustancial, que o poeta cordelista vem a ser o centro dessas atenções. Com sua métrica perfeita, com sua obrigatoriedade da rima correta, com aquela sequencia se estrofes harmoniosas o poeta contava um conto e aumentava vários pontos.
O poeta Jessier Quirino define bem o que seja um mestre da narrativa, quando diz que não é apenas um artista, mas um escutador das coisas do povo. E assim a gente descobre que o povo gosta de se ver retratado nesse universo de magia que é a poesia de cordel. O verso matuto. O repente.
Num tempo onde não existia veículos de comunicação que alcançasse os mais distantes rincões, o cordel reinou absoluto. Pois, ali ele era o principal veiculo de comunicação.

Lembrando esses tempos áureos da poesia de cordel, a gesta registra estrofes como esta:

“Ali se aprecia muito
um cantador, um vaqueiro,
um amansador de burro
que seja bom catingueiro
um poeta repentista,
ou então um cangaceiro.”

No berço mãe da poesia, São José do Egito, ainda temos o prazer de ouvir as pessoas se cumprimentarem com um: “Bom dia, poeta!”. É lá onde se diz que todos os moradores são poetas. Uma pergunta que nunca quer calar é saber o porque de o cordel ter encontrado terreno fértil para sua disseminação, sendo o sertão terra tão seca e distante. Uma resposta me persegue que é o fato de saber que a necessidade de se comunicar fez daquele povo poetas em potencial. E desses, grandes narradores da estória e dos costumes do seu povo. E que esse legado se perpetue e não morra jamais, pois, no dia em que a poesia morrer, com ele morrerá o sentimento e o amor de todo ser vivo.
Viva a poesia!

Paulo Moura – poeta cordelista, escritor e pesquisador.

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